Com prisão dada como certa, aliados de Bolsonaro já temem sua 'morte digital'

Receio é de que Jair Bolsonaro seja obrigado a se afastar das redes sociais até mesmo antes de ter a prisão decretada

O entorno do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) já dá como provável uma condenação na ação que investiga sua participação em uma tentativa de golpe de Estado. Agora, no entanto, um novo temor ganha força entre seus aliados: a possibilidade de que o Supremo Tribunal Federal (STF) o proíba de acessar redes sociais, mesmo que cumpra eventual pena em regime domiciliar.

Segundo reportagem da colunista Malu Gaspar, do jornal O Globo, pessoas próximas a Bolsonaro discutem o cenário de um “exílio virtual” imposto pela Justiça. A medida, defendem, significaria a retirada de sua principal ferramenta de comunicação e influência política. “Moraes criou o exílio virtual. Vão tentar silenciar o Bolsonaro nas redes, matá-lo civilmente”, disse à colunista uma fonte do núcleo bolsonarista com atuação na área jurídica.

A hipótese não é inédita. O ministro Alexandre de Moraes, relator dos processos relativos aos ataques de 8 de janeiro de 2023, já aplicou sanções semelhantes a outros réus. Entre os exemplos está a cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos, condenada a 14 anos de prisão por depredar o patrimônio do STF — os mesmos crimes pelos quais Bolsonaro responde: tentativa de abolição violenta do Estado de Direito, golpe de Estado, associação criminosa armada, dano qualificado e deterioração de bem tombado.

A tensão entre Bolsonaro e o STF tem aumentado, especialmente após a abertura de um novo inquérito contra seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), também autorizado por Moraes. O objetivo é apurar suposta coação e articulações com o governo de Donald Trump contra autoridades brasileiras. O ex-presidente deve prestar depoimento sobre o caso na próxima quinta-feira (5) e admitiu estar financiando os custos de Eduardo nos Estados Unidos — um dado que pode levar a ampliação das investigações sobre seu envolvimento.

Dentro do grupo político de Bolsonaro, cresce o receio de que medidas cautelares sejam determinadas antes mesmo de um eventual julgamento. Entre elas, são cogitadas o bloqueio de bens, a prisão preventiva e, principalmente, a restrição ao uso de redes sociais.

Na avaliação de aliados, perder o acesso às plataformas digitais seria um golpe mais severo à capacidade de articulação política de Bolsonaro do que uma prisão em si. Atualmente, o ex-presidente tem 13,9 milhões de seguidores no X (antigo Twitter) e 26,6 milhões no Instagram — bem à frente do presidente Lula (PT), que soma 9,5 milhões e 13,2 milhões nas mesmas redes. Bolsonaro usou essas plataformas como principal canal de campanha e mobilização nas eleições de 2018 e 2022.