Brizola e a falta que ele faz

Sob muitos, muitíssimos aspectos, Leonel Brizola soube desenhar e implantar o que ele considerava o modelo correto para o Brasil

Foto: Diário da Manhã
Brizola

Por Eric Nepomuceno, jornalista, no Brasil 247 

Se não tivesse cometido a suprema imprudência de partir para sempre em junho de 2004, Leonel de Moura Brizola teria completado 99 anos nesta sexta-feira, 22 de janeiro.

Nós nos encontramos pela primeira vez em Lisboa, em 1978, através de Darcy Ribeiro. E fomos muito próximos até o fim. 

Neste país desmemoriado, é muito grande o risco de que uma figura das dimensões sociais e políticas de Brizola – dimensões gigantescas – acabe caindo na neblina ou no esquecimento. 

E no entanto, de todos os líderes que este país perdeu, nenhum faz tanta falta como Leonel Brizola. Fico imaginando como ele enfrentaria não propriamente Jair Messias, mas como ele teria resistido a todas as manobras do juiz manipulador e desonesto de Curitiba, como denunciaria o complô dos grandes oligopólios de comunicação e o comportamento poltrão da corte suprema do país, como metralharia um golpista medíocre chamado Michel Temer e todos os seus cúmplices.

A verdade é que jamais me conformei com o fato de Lula, e não ele, ter ido para o segundo turno da eleição presidencial em 1989, disputando com aquela farsa chamada Fernando Collor de Melo. 

Tenho a certeza inoxidável de que Brizola seria eleito, e promoveria no Brasil o que promoveu quando foi governador tanto do Rio Grande do Sul como do Rio de Janeiro.

E hoje o que se vê é que pouquíssima gente lembra que quando governou seu estado, Brizola desapropriou os serviços de energia elétrica e telefonia, mais que dobrou o número de vagas escolares e promoveu um começo de reforma agraria, apoiando os primeiros movimentos de trabalhadores sem terra do Brasil. Quando ele deixou o governo, o Rio Grande do Sul era o estado brasileiro com a maior taxa de escolarização.

Quando governou o Rio de Janeiro, encarregou Darcy Ribeiro de criar e instituir o mais revolucionário dos sistemas escolares deste país, os CIEPs, onde os alunos chegavam às sete da manhã e saíam no final da tarde, com direito a café da manhã, almoço, lanche, assistência médica, quadras de esporte, bibliotecas, enfim, tudo.

Sob muitos, muitíssimos aspectos, Brizola soube desenhar e implantar o que ele considerava o modelo correto para o Brasil.

Por isso ele faz tanta falta. Ele e políticos da sua envergadura, que parecem ter sumido na névoa do tempo, na neblina pesada da desmemória desse país anestesiado.