A recente liberação de documentos secretos da CIA, autorizada pelo governo de Donald Trump, revelou a magnitude da vigilância que o político brasileiro Leonel Brizola sofreu durante a Guerra Fria. Esses documentos, divulgados nesta terça-feira (18), fazem parte de uma série relacionada aos assassinatos de John F. Kennedy, Robert F. Kennedy e Martin Luther King Jr., e mostram como a agência de inteligência americana monitorava Brizola devido à sua postura nacionalista e à sua defesa intransigente da soberania do Brasil.
Brizola foi visto pelos Estados Unidos como uma figura central e perigosa na política brasileira. Sua resistência ao imperialismo e sua defesa de um modelo econômico baseado na industrialização nacional e na independência frente ao capital estrangeiro o tornaram um alvo constante da CIA. O material revela que, em 1961, durante a crise política que se seguiu à renúncia de Jânio Quadros, Fidel Castro e Mao Tsé-Tung ofereceram apoio a Brizola, o que, embora recusado pelo político, colocou-o ainda mais na mira dos Estados Unidos. A espionagem sobre Brizola fazia parte de uma estratégia mais ampla da Guerra Fria, onde os EUA tentavam sufocar qualquer movimento nacionalista e progressista na América Latina.
A Luta Contra o "Entreguismo" e o Legado Inabalável de Brizola
Brizola sempre foi um incansável defensor da soberania nacional e das camadas populares. Sua trajetória política, marcada pela fundação do PDT e sua atuação como governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro, sempre teve como base a defesa da educação pública, das reformas estruturais e do desenvolvimento autônomo do Brasil. Seu embate contra os interesses imperialistas, simbolizado pela pressão constante da CIA e pela resistência da mídia, como a Rede Globo, consolidou-o como uma das figuras mais relevantes e combativas da política brasileira.
Mesmo com a perseguição da mídia, especialmente do grupo Globo, Brizola conseguiu importantes vitórias eleitorais, incluindo sua eleição para o governo do Rio de Janeiro em 1982, onde enfrentou campanhas de difamação e desinformação. Um dos momentos mais emblemáticos dessa luta foi o direito de resposta histórico concedido pela Globo em 1994, onde Brizola teve a oportunidade de desmascarar a parcialidade da emissora em horário nobre, uma vitória jurídica que se tornou um marco na luta contra a manipulação midiática no Brasil.
O Golpe de 1964 e a Paranoia Anticomunista
A espionagem e a repressão a Brizola estavam inseridas em um contexto de intensa polarização internacional durante a Guerra Fria. A visita do vice-presidente João Goulart à China em 1961, uma tentativa de fortalecer os laços econômicos com o país asiático, gerou grande preocupação nos Estados Unidos e nos setores militares brasileiros. Esse evento, somado à ascensão de Brizola como defensor da legalidade e da soberania nacional, desencadeou uma reação imediata da CIA e dos militares. A crise política que se seguiu culminou no golpe de 1964, com a deposição de Goulart e a instalação de uma ditadura militar que perseguiria Brizola e outros líderes progressistas como Rubens Paiva.
Rubens Paiva e a Cumplicidade da Mídia e da CIA
A recente revelação dos documentos secretos também destaca o caso de Rubens Paiva, ex-deputado federal e defensor ferrenho da democracia, que teve seu mandato cassado e foi assassinado pela ditadura militar. A CIA, assim como fez com Brizola, monitorou Paiva, visto como uma ameaça aos interesses dos Estados Unidos. O filme "Ainda Estou Aqui", que resgata a história de Paiva e sua esposa, Eunice, venceu o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2025, trazendo à tona o papel da repressão política no Brasil e a cumplicidade dos EUA.
O Legado de Brizola e a Resistência Contra a Manipulação
A luta de Brizola e a resistência que ele ofereceu tanto à ditadura militar quanto à manipulação da mídia continuam a ser uma inspiração para as futuras gerações. Sua trajetória reflete a força de um líder popular que jamais cedeu às pressões internas ou externas e que permaneceu firme na defesa de um Brasil soberano, independente e focado no bem-estar de seu povo. Sua atuação, junto com a de outros líderes como Jango Goulart e Rubens Paiva, ficou marcada pela tentativa de construção de um país livre de intervenções estrangeiras e alinhado aos interesses da sua população.
A luta de Brizola contra a Globo, suas vitórias jurídicas e sua resistência à ditadura representam um legado político que ainda ecoa no Brasil contemporâneo. Os documentos da CIA, ao revelarem o grau de espionagem e perseguição a que ele foi submetido, apenas reforçam a importância de sua figura como símbolo de resistência e de um Brasil que luta contra os interesses imperialistas e pela sua autonomia. O reconhecimento do cinema e a continuação da desclassificação de documentos históricos são um convite para revisitar e reconhecer a verdade sobre um dos períodos mais sombrios da história brasileira.