Manter a agressividade de uma minoria radicalizada em alto grau é o que interessa a Bolsonaro. Ele construiu Mourão e o centrão como inimigos, o que faz com que as soluções à mão para a velha elite política (impeachment, parlamentarismo branco) despertem a ira de sua tropa só de serem cogitadas.
A classe dominante brasileira, por motivos diversos, alguns deles psicanalíticos, fechou para si mesma o caminho que a racionalidade política exigiria: retomar as negociações com uma esquerda pra lá de moderada, tirar Lula da prisão e pacificar o país isolando as hordas de fanáticos do nosso projeto subnormal de Duce tupiniquim.
Ela quer manter, sozinha, o veto ao campo popular como interlocutor legítimo do debate político e, ao mesmo tempo, colocar Bolsonaro de escanteio. O objetivo do ex-capitão é mostrar que isso não será possível e que terão que aceitá-lo com Queiroz, com Olavo, com tudo.
Em suma: ele não quer governar, quer manter-se no governo para avançar o pequeno elenco de pautas que o interessam diretamente (liberação das armas, flexibilização da legislação de trânsito e ambiental, proteção ao clã e às milícias vinculadas). Sabe ou intui que não tem condições de manter negociações efetivas com os outros poderes. Quer é estar em posição de força para as escaramuças que certamente continuarão.
Se as manifestações forem grandes, ótimo. Se não forem um malogro completo, dá pro gasto.