O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), afirmou em depoimento à Polícia Federal (PF) nesta quinta-feira (5) que o general Walter Braga Netto teve participação decisiva em uma trama golpista que incluía o planejamento do assassinato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), então presidente eleito. O militar reiterou informações já prestadas ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), em depoimento realizado no dia 21 de novembro, quando manteve seu acordo de delação premiada.
Cid também foi interrogado sobre o plano denominado “Punhal Verde e Amarelo”, que, de acordo com a PF, consistia em um planejamento para executar Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro Alexandre de Moraes.
Foi a primeira vez que o ex-ajudante de ordens foi questionado diretamente pelos investigadores sobre esse tema. Desde que assinou, em setembro de 2023, um acordo de colaboração premiada, Cid tem contribuído com informações que fundamentam investigações relacionadas ao governo Bolsonaro, incluindo a tentativa de golpe de Estado, a falsificação de cartões de vacinação contra a Covid-19 e a venda de joias sauditas recebidas pelo ex-presidente. Até o momento, ele já prestou 14 depoimentos. O mais recente ocorreu duas semanas após ser ouvido pelo ministro Alexandre de Moraes, ocasião em que conseguiu manter os benefícios do acordo, mesmo após a PF apontar omissões e contradições em suas declarações.
A manutenção do acordo foi garantida após Cid fornecer detalhes sobre o envolvimento do general Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e candidato a vice na chapa de Bolsonaro em 2022. Esses esclarecimentos foram considerados cruciais para a continuidade da colaboração.
No depoimento ao ministro, Cid afirmou não ter conhecimento de um plano para assassinar Lula, Alckmin e Moraes. Entretanto, a Polícia Federal identificou o general Mario Fernandes como o responsável por elaborar o chamado plano “Punhal Verde e Amarelo”. Segundo o relatório final da PF, o documento com o planejamento operacional para os assassinatos foi impresso pelo general da reserva no Palácio do Planalto e levado ao Palácio da Alvorada.
A data da impressão, 9 de novembro de 2022, ocorreu enquanto Bolsonaro ainda residia no Palácio da Alvorada, poucos dias após sua derrota para Lula no segundo turno das eleições. O advogado de Mario Fernandes, Marcus Vinícius Figueiredo, afirmou que o documento apontado pela investigação como plano golpista nunca foi entregue a ninguém.
Em novembro, Cid e outras 36 pessoas, incluindo Jair Bolsonaro, foram indiciados por crimes como tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa. O inquérito foi encaminhado à Procuradoria-Geral da República (PGR) pelo ministro Alexandre de Moraes. Agora, cabe ao procurador Paulo Gonet decidir se os indiciados serão denunciados.
A trama contra Lula vem de longe, veja o que escreveu o jornalista Renato Rovai em 2021: Foco no Braga Netto: estão tramando para tirar Lula das eleições
"Braga Netto precisa ser preso imediatamente", diz Lindbergh Farias
O deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) destacou, em suas redes sociais, a gravidade das novas denúncias feitas por Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro. A denúncia reforça a necessidade de apurações rigorosas sobre a participação de figuras-chave do governo Bolsonaro em atos contra a democracia.
Em publicação no X (antigo Twitter), Lindbergh não poupou palavras:"GRAVÍSSIMO: Em novo depoimento, Mauro Cid diz que Braga Netto entregou dinheiro numa embalagem de vinho para financiar o golpe, os ‘Kids Pretos’. Braga Netto PAGOU para assassinar Lula, Alckmin e Moraes. Precisa ser preso imediatamente!"