Por Leonardo Sakamoto, jornalista, no facebook
Ser chamado de "genocida" parece assustar menos Bolsonaro do que ganhar a alcunha de "Bolsocaro".
Protestos pelo impeachment de Jair Bolsonaro, realizados neste sábado (2), colocaram a disparada no preço do gás de cozinha, dos alimentos, da gasolina e da energia elétrica como protagonista. Não que o termo "Bolsocaro" não estivesse presente desde as manifestações contra ele desde maio, mas agora figurava onipresente nas faixas, nos jingles, nos cartazes, nos discursos.
Em frente ao Masp, na avenida Paulista, a estrela era um botijão de gás de cozinha inflável e gigante, lembrando que o produto atinge R$ 125. Estampava a marca "UltraGuedez", em crítica ao czar da economia. Não era o único inflável com a mesma ideia no protesto em São Paulo, nem nos outros atos pelo país.
Com isso, as manifestações atingem em cheio uma das maiores preocupações do presidente da República: a sua queda de popularidade diante da alta da inflação, que afunda a classe trabalhadora, corroendo o poder de compra de salários e benefícios sociais.
Desde o início da pandemia, Bolsonaro parece ter feito um cálculo mórbido: os mortos pelo coronavírus causariam um dano menor para suas intenções eleitorais do que a fome, o desemprego e a pobreza.
Por isso, empurrou a população de volta às ruas, atacando o isolamento social e promovendo remédios inúteis à covid. Usou até os dados distorcidos da Prevent Senior baseados em experimentos em cobaias humanas em sua campanha a favor da cloroquina.
Caso Bolsonaro não tivesse sabotado sistematicamente as medidas de isolamento social, nem combatido o uso de máscaras, muito menos postergado contratos de compra de vacinas, a pandemia seria mais curta e a economia teria voltado ao normal muitos antes, com menos mortos e menos desemprego.
Para ele, os 600 mil mortos (ou 0,28% da população) ainda é um número menos preocupante do que 14,1 milhões de desempregados, ou uma taxa de 13,7%. Ou um aumento na cesta básica, que subiu 34% nos últimos 12 meses, em Brasília, e 26%, em Porto Alegre, de acordo com o Dieese. Sem falar de uma gasolina que ultrapassa R$ 7 em muitas cidades e o tal botijão de gás - que de tão caro provoca uma volta ao uso da lenha, colocando em risco a vida dos mais pobres.
Ele diz que quis proteger vidas e empregos e os governadores e prefeitos, ao promoverem quarentenas, não deixaram que isso acontecesse. Mentira: suas ações ceifaram ambos.