Bolsonaro vai organizar o caos. E Lula?

À esquerda brasileira resta reconstruir um de seus pilares: organizar da sua base social

Foto: Veja
Lula e Jair Bolsonaro

Por Rudá Ricci, sociólogo, no twitter 

Agora que o Centrão enquadrou Bolsonaro e ele desautorizou os bloqueios das rodovias, já dá para fazer uma análise mais fria sobre o que começamos a viver nesta semana em termos de impasses políticos. Lá vai.

Se Lula venceu eleitoralmente, no campo político houve empate. Lula cresceu para fora, ou seja, sua imagem de estadista e agregado de lideranças está consolidada. Sua imagem no exterior é ainda maior com esta vitória. Afinal, foi preso e voltou com o terceiro mandato.

Contudo, Bolsonaro cresceu para dentro, ou seja, organicamente. Não dá para negar que ele organizou a extrema-direita no Brasil e conseguiu inseri-la no Congresso Nacional e governos estaduais. Ganhou consistência.

Há algo mais grave em termos de sucesso político bolsonarista: a organização de uma base coesa, fanática e organizada. Os bloqueios de rodovias em quase todos Estados brasileiros revela o descompasso com a organização da base da esquerda brasileira.

Bolsonaro teve que recuar nos últimos dias. Depois da eleição, foi o grand finale. Foi enquadrado pelo Centrão porque não tinha apoio para fazer suas estripulias. Mas, deve ter aprendido a lição.

Bolsonaro, imagino, organizará nas próximas semanas, a reação que ocorrerá em 2023. Deixará a transição para Mourão e Ciro Nogueira. E ficará livre para conspirar. Tentará, imagino, organizar o caos

O caos tem sentido para manter visibilidade. Com ele, pode dar o troco no Centrão e "roubar" algumas prefeituras dele em 2024. Se tiver esta capilaridade, terá ainda mais força a partir daí.

À esquerda brasileira resta reconstruir um de seus pilares: organizar da sua base social. É preciso criar uma ampla rede que envolva os municípios. Uma rede coordenada de comitês locais que informem, organizem e mobilizem esta base. Sem isso, patinará e Lula estará refém

Enfim, nesta semana, o campo lulista venceu duas batalhas: a eleitoral e o embate com os bloqueios. Bolsonaro teve que curvar os joelhos. Mas, foram apenas batalhas. A guerra contra o fascismo só começou.