Bolsonaro recebe visita 'você vai ter que nos engolir' de Moraes e Fachin

Não foram tão explícitos como Mário Jorge Lobo Zagallo, após a Conquista da Copa América, em 1997

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Encontro entre Bolsonaro e Moraes foi 'frio' e durou  menos de dez minutos

 


Por Leonardo Sakamoto, jornalista, no Facebook 

A visita dos ministros do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin e Alexandre de Moraes a Jair Bolsonaro, nesta segunda (7), no Palácio do Planalto, teve um sabor do tipo "você vai ter que nos engolir".

Ambos foram levar um convite para que o chefe do Poder Executivo prestigiasse a posse deles como presidente e vice do Tribunal Superior Eleitoral, no próximo dia 22, como informou a colunista Carolina Brígido. Não respondeu se vai, claro.

Não foram tão explícitos como Mário Jorge Lobo Zagallo, após a Conquista da Copa América, em 1997. Mas é bem possível que o presidente ou seus assessores tenham entendido o recado.

Bolsonaro não esconde o ódio que sente por eles, muito menos o desprezo que tem pelo TSE - o que ficou bastante claro em toda a campanha para atacar a credibilidade do eficaz sistema de votação eletrônica, plantando uma justificativa em caso de derrota nas eleições de outubro. E os ministros sabem disso, por isso não iriam, agora, levantar bandeira branca.

Por mais que assessores do presidente da República queiram vender a ideia de que a reunião protocolar foi 'rápida, porém, bastante amistosa', como noticiou a colunista Carla Araújo, ela não vai colocar panos quentes na relação - o que dependeria, neste momento, mais de gestos de Jair do que do TSE.

Pelo contrário, o encontro representa um lembrete de que o Brasil tem uma suprema corte eleitoral. E que o presidente não precisa gostar dela ou de seus ministros, desde que não os ignore e os respeite. Tudo isso foi expressado sem que uma palavra nesse sentido precisasse ser dita.

Como você lida com um adolescente que faz bullying pelo computador? Para começar, conversa com ele olho no olho. Funciona? Muitas vezes não, mas certamente ele não poderá dizer que não leu a mensagem.

Bolsonaro pede mais diálogo e, ao mesmo tempo, ataca outros poderes da República, extrapola as funções que a Constituição lhe outorga como eleito e comete crimes de responsabilidade em série. Em aproximações sucessivas, avança e retrocede, mordendo as instituições e se vendendo como vítima aos seus seguidores - que passaram a ver o STF e o TSE como representantes do tinhoso.

Faz tudo isso porque sabe que tem a proteção da Procuradoria-Geral da República e da maioria do Congresso Nacional. Até quando? Vai depender do seu desempenho eleitoral nos próximos meses. Porque o centrão pode ser muita coisa, menos suicida.

Da desinformação em massa pelas redes sociais e aplicativos e mensagens, passando pela difusão de ódio e promoção de violência contra adversários até o financiamento ilegal de campanhas por empresários amigos, o TSE terá um longo calvário daqui até o final do ano. Em agosto, aliás, no meio do furdúncio eleitoral, Moraes assume a presidência da instituição prometendo não pegar leve. Bolsonaro, por sua vez, vai tentar provar que ele não é isento para julgá-lo.

Que, diante da tentativa de matar a democracia, eles não tenham receio de descer goela abaixo os remédios previstos em lei, por mais amargos que sejam.