Bolsonaro passa mais tempo no avião do que em eventos pelo país

As visitas aos estados buscam manter o presidente próximo da população e dar o pontapé na campanha à reeleição em 2022

Foto: Arte: Metrópoles

Metrópoles - Às vésperas das eleições de 2022 e em meio à pandemia de coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro (ex-PDC, PPR, PPB, PTB, PFL, PP, PSC e PSL) aumentou o número de viagens oficiais pelo país. Como mostrado pelo Metrópoles, o mandatário da República tem viajado mais pelo Nordeste, região tida como reduto eleitoral do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Apesar disso, o titular do Palácio do Planalto passa mais horas dentro do avião presidencial do que cumprindo compromissos oficiais pelo Brasil.

As agendas nacionais buscam manter o chefe do Executivo federal próximo da população e dar o pontapé na campanha à reeleição em 2022. Além de serem uma oportunidade para Bolsonaro criticar senadores da CPI da Covid-19 em seus próprios estados. A comissão investiga a atuação do governo federal no combate à pandemia.

Durante as visitas aos estados, o presidente também tem o costume de criticar governadores e prefeitos por causa da adoção de medidas de enfrentamento à pandemia, como o fechamento do comércio para frear a disseminação do vírus.

Segundo levantamento feito com base na agenda oficial de Bolsonaro, em 2021, o presidente ficou 61 horas e 50 minutos em eventos pelo Brasil — o que equivale a 2,5 dias. Para chegar aos estados e retornar a Brasília, o mandatário da República passou 151 horas e 35 minutos dentro do avião presidencial — o equivalente a 6,2 dias.

De março a dezembro de 2020, Bolsonaro dedicou 85 horas e 40 minutos em eventos pelo país e pelo mundo, o equivalente a 3,5 dias. No mesmo período, ficou 189 horas e 24 minutos dentro de aviões, o que corresponde a 7,8 dias.

O fechamento das fronteiras e as barreiras sanitárias impostas pelas autoridades mundiais obrigaram a interrupção de viagens, inclusive de chefes de Estado. No Brasil, mesmo negando a gravidade do novo coronavírus desde o início, Bolsonaro teve de reduzir o número de viagens nos primeiros meses da pandemia.

Somando todos os registros oficiais em que Bolsonaro ficou dentro de aviões desde março do ano passado, foram contabilizadas 340 horas e 59 minutos — 14,1 dias. Já o tempo gasto em eventos desde o início da pandemia foi de 147 horas e 30 minutos para pautas nacionais, o equivalente a 6,1 dias.

Agendas não oficiais

Além dos compromissos oficiais de que Bolsonaro participa, como inaugurações de obras, cerimônias de entrega de títulos de propriedade rural e entregas de residências, o presidente também costuma se dedicar a atividades “fora da agenda”.

O grosso desses compromissos envolve o corpo a corpo com apoiadores. Ao desembarcar nos aeroportos ou ao chegar aos locais dos eventos, Bolsonaro faz questão de cumprimentar populares e abrir transmissões ao vivo – nas quais passa vários minutos apertando mãos, segurando crianças no colo e posando para fotos. Nessas ocasiões, o mandatário desrespeita protocolos sanitários.

Após viagem ao Maranhão, em 21 de maio deste ano, por exemplo, o governador Flávio Dino (PCdoB) multou o presidente Jair Bolsonaro por provocar aglomerações e não usar máscara de proteção facial.

Outro tipo de evento para os quais Bolsonaro tem despendido muitas horas são os passeios de motos, apelidados de “motociatas”. Essa programação já foi feita em ao menos seis cidades do país: Brasília (DF), São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Chapecó (SC), Porto Alegre (RS) e Presidente Prudente (SP). Ainda estão previstas outras em Manaus (AM) e Florianópolis (SC).

Para se isentar de responsabilidade pelos atos políticos, que podem configurar campanha eleitoral antecipada, Bolsonaro costuma dizer que participa das motociatas apenas como convidado.

Os atos são convocados por clubes de motoqueiros e outros apoiadores do governo federal. Ao final, Bolsonaro tem subido em trios elétricos para discursar. Nas últimas vezes, o titular do Palácio do Planalto aproveitou para defender o voto impresso e subir o tom nos ataques ao ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).