Bolsonaro não tem um pingo de compaixão pelas vítimas

Bolsonaro é "autêntico", dizem seus apoiadores

Foto: ABJDJair Bolsonaro

Por Luiz Felipe Miguel, professor, no Facebook

Bolsonaro é "autêntico", dizem seus apoiadores.

Um político de décadas, que sempre usou os cargos que obteve para beneficiar parentes e se locupletar, com vínculos irrefutáveis com o crime organizado, que mente a cada frase que pronuncia - é esse que seus apoiadores exaltam pela autenticidade.

Mas o desprezo de Bolsonaro pela vida dos brasileiros é autêntico.

Não precisava de mais nada, mas seu comportamento diante do caos sanitário em Manaus é um novo exemplo.

Não é apenas negligente ou irresponsável: é criminoso. Enquanto as pessoas morrem nos hospitais manauaras, ele investe em cortinas de fumaça e usa o dinheiro público para promover o uso de medicamentos sem eficácia, como cloroquina e ivermectina.

Anuncia como grande feito a redução do imposto de importação para cilindros de oxigênio - que ele mesmo havia aumentado, há apenas três semanas (enquanto reduzia a tributação na importação de armas).

Os 210 mil mortos da contabilidade oficial, as famílias em desespero em Manaus, nada disso importa. Sua única preocupação, sempre, é o jogo de empurra, que lhe permita impedir, como um dia ele mesmo explicou, que a conta de tanto desgoverno caia no seu colo.

Não há um pingo de compaixão pelas vítimas. Esse é um traço dominante - e autêntico - de sua personalidade. Uma compulsão por se mostrar festejando a morte.

Quando, empurrado por seus assessores, se vê constrangido a mostrar alguma compunção, ele grunhe apressadamente um "lamento as mortes" e passa imediatamente para outra questão, que lhe permita soltar uma piada e termine numa daquelas suas gargalhadas cavernosas, medonhas.

Bolsonaro é como se fosse um espelho em que cada um de nós vê refletido o que de pior existe no ser humano. Muitos de nós nos assustamos com o que vemos. Mas há outros - e não são poucos - que se fascinam, que se identificam.

Para derrotar não apenas Bolsonaro, mas tudo aquilo que ele encarna, é preciso entender como foi possível que essa identificação se tornasse tão frequente. Que tipo de sociedade construímos, em que o egotismo é a norma, a solidariedade é banida, a compaixão é uma fraqueza, a truculência é mérito, a ignorância é um ideal a ser cultivado.