Bolsonaro joga suas últimas cartas, a mais nefasta delas a do medo

Porque o ideal seria derrotá-lo no primeiro turno

Foto: Divulgação

Por Ricardo Noblat, jornalista, no Metrópoles 

Descoberta da mais recente pesquisa Datafolha feita por encomenda do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e pela Rede de Ação Política pela Sustentabilidade: 7 em cada 10 brasileiros temem sofrer agressões por causa de sua opinião política.

Em outro levantamento recente, o Datafolha apurou também que 40% dos brasileiros enxergam grande chance de atos violentos no dia da eleição. E, pasmem: 9% admitem não votar por medo de que haja tumulto nas seções eleitorais.

Que eleitores são esses que por medo de tumulto admitem se abster? A maioria, certamente, não é bolsonarista. Pelo que se viu na campanha passada e se vê nesta, os bolsonaristas saem às ruas dispostos a tudo, e muitos deles armados.

Atos de violência normalmente são cometidos por eles. Foi um policial bolsonarista que no Paraná matou a tiros o tesoureiro local do PT que aniversariava. Foi outro bolsonarista que no Mato Grosso matou um petista com 14 facadas.

Benito Mussolini, o fundador do fascismo, chegou ao poder atemorizando seus adversários com o uso da violência. Dela, na Alemanha, valeu-se Adolf Hitler ao organizar o Esquadrão de Proteção (Schutzstaffel), conhecido como as SS.

Bolsonaro sempre defendeu “armar o povo para que ele não seja mais escravo de ninguém”. Quer dizer: o povo que o apoia, que tem dinheiro para comprar armas, e que as comprou em uma quantidade incalculável desde que ele se elegeu há quatro anos.

A extrema-direita, que se diz democrática, mas que de democrática não tem nada, age assim por toda parte desde tempos imemoriais. Aqui não seria diferente. Faltava apenas quem a comandasse, tirando-a dos esgotos e das sombras. Apareceu Bolsonaro.

A 14 dias das eleições, o candidato campeão de rejeição, campeão de falta de confiança na sua palavra, mais de 10 pontos percentuais atrás do líder das pesquisas, está desesperado e joga suas últimas cartas na mesa com a esperança de se recuperar.

Aumentar a rejeição de Lula é uma das cartas, e a propaganda de Bolsonaro no rádio e na televisão vem apostando nela. Mas a mais poderosa é a carta do medo. É com ela que Bolsonaro tem acenado nos últimos dias em discursos país afora.

Os pastores evangélicos que o acompanham nessa cruzada demoníaca não se limitam a pregar a luta do bem contra o mal. Alguns não se acanham em defender a fraude, como fez há poucos dias Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo.

Ao falar sobre as urnas eletrônicas, ele disse sem pudor:

“Em nome de Jesus, esse sistema vai ser travado. Vai ficar travado por pelo menos oito horas e ninguém vai conseguir destravar. Aí vai ter que ter uma outra eleição”.

O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), às vésperas do showmício militarizado do 7 de setembro, foi mais pragmático e direto ao pedir ajuda aos bolsonaristas em armas:

“Você comprou arma legal? Tem clube de tiro ou frequenta algum? Então você tem que se transformar num voluntário de Bolsonaro. Peça ao seu candidato a deputado federal adesivos e santinhos do Presidente, distribua”.

Por que convocar só bolsonaristas armados para serem voluntários? Há uma massa de bolsonaristas desarmados, ou porque não têm dinheiro para comprá-las ou porque não gostam delas. Eduardo já sugeriu fechar o Supremo Tribunal Federal.

Esta eleição, no primeiro ou segundo turno, será decidida por uma margem estreita de votos. O ideal seria derrotar Bolsonaro no próximo dia 2. Mas que ele perca no dia 2 ou no dia 30 de outubro, o que não significará o fechamento das portas do inferno.

Se vencido, Bolsonaro ainda vai aprontar muita coisa até 31 de dezembro, seu último dia como presidente da República.