Bolsonaristas abandonam "Débora do Baton"

Marido de Débora conta como a mulher foi abandonada pelos patriotas

Em meio ao silêncio das lideranças bolsonaristas e à ausência de solidariedade organizada, a família de Débora Rodrigues dos Santos, presa por envolvimento nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, enfrenta o isolamento e as dificuldades financeiras por conta própria. “É nós por nós”, resume Nilton Cesar dos Santos, marido de Débora, ao descrever a rotina desde que ela foi detida. “Não estamos recebendo ajuda de ninguém, a gente só tem ajuda da família”, afirmou, em entrevista à Folha de S.Paulo, sem abrir o portão da casa em Paulínia (SP), onde vive com os filhos.

A ausência de apoio contrasta com o cenário de mobilização que marcou o auge do bolsonarismo. Quando o próprio ex-presidente Jair Bolsonaro enfrentou problemas legais, seus apoiadores promoveram vaquinhas virtuais e doações via Pix que arrecadaram milhões. Durante os acampamentos em frente a quartéis do Exército, empresários bolsonaristas bancaram desde carnes para churrascos até estruturas completas de apoio logístico e alimentação.

Hoje, no entanto, a família de Débora sente o peso do abandono. “As crianças voltaram a sorrir, mas não é fácil, né? Não estamos tendo apoio psicológico”, diz Nilton, que sustenta a casa com seu trabalho como pintor. A entrada do salão de beleza que Débora mantinha foi lacrada com concreto. A antiga fachada ainda carrega o nome do estabelecimento, como um lembrete silencioso do que foi perdido.

Débora passou dois anos presa e atualmente cumpre prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica. Está proibida de conceder entrevistas, usar redes sociais ou manter contato com outros investigados. Tornou-se símbolo dos atos de 8 de janeiro após pichar com batom a estátua da Justiça no STF com a frase “perdeu, mané”. Ela responde a cinco acusações, incluindo tentativa de golpe de Estado, dano qualificado e associação criminosa armada.

Apesar do apelo recente feito por Bolsonaro — que levou a mãe e a irmã de Débora ao palanque na avenida Paulista para pressionar pela anistia — moradores da cidade dizem não conhecer pessoalmente a cabeleireira. Paulínia, onde Bolsonaro teve 59% dos votos no segundo turno de 2022, é marcada por forte adesão ao bolsonarismo. Mas isso não tem se revertido em apoio concreto à família.

O julgamento de Débora está suspenso por pedido de vista do ministro Luiz Fux, que apontou possíveis “penas exacerbadas” em alguns casos. Antes disso, os ministros Alexandre de Moraes e Flávio Dino já haviam votado por sua condenação a 14 anos de prisão. O caso continua a alimentar o debate político em torno da anistia aos envolvidos nos ataques, que, segundo interlocutores do governo Lula, visa na verdade abrir caminho para isentar o próprio Bolsonaro de futuras punições.

Em depoimento, Débora alegou que viajou com recursos próprios, que “agiu no calor do momento”, e negou ter invadido qualquer prédio. Pediu desculpas ao Supremo Tribunal Federal. O julgamento deve ser retomado no dia 25 de abril, em sessão virtual do STF.