Batom, bandeiras americans e ataques ao STF: o ato de Bolsonaro na Paulista

Ato por anistia de Bolsonaro na Paulista enche apenas 2 quarteirões

A Avenida Paulista, tradicional palco de manifestações políticas em São Paulo, voltou a ser ocupada neste domingo (6) por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Apesar da promessa de uma “grande manifestação” em defesa da anistia aos envolvidos nos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023, o que se viu foi uma aglomeração modesta e marcada mais por símbolos caricatos do que por força popular real.

O batom, inusitado protagonista da tarde, surgiu como o novo fetiche simbólico do bolsonarismo. Referência à cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos, a “Débora do Batom” – condenada por sua participação nos atos golpistas e por pichar a estátua da Justiça em frente ao STF com a frase “Perdeu, mané” – o cosmético virou estampa de camisetas, cartazes e até “hino” entoado pelos manifestantes. “Cuidado, essa arma condena a 14 anos”, diziam algumas faixas, em tom de escárnio à Justiça. A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro já havia antecipado o tom, usando a figura de Débora como símbolo de vitimização.

A narrativa, no entanto, descola-se dos fatos. A prisão de Débora não ocorreu por conta de um simples batom, mas pela série de crimes associados à tentativa de golpe de Estado. Ao transformá-la em mártir, o bolsonarismo reforça sua estratégia de inversão moral: transformar criminosos em heróis e juízes em inimigos da nação.

O ato foi marcado ainda pela forte presença de autoridades aliadas, como os governadores Tarcísio de Freitas (SP), Romeu Zema (MG), Ratinho Júnior (PR), e Wilson Lima (AM), entre outros. Tarcísio, apesar de governar o estado mais rico do país, optou por um discurso populista e extremista: “Se tá tudo caro, volta Bolsonaro”. Ao mesmo tempo, atacou o presidente Lula e defendeu a anistia, em uma tentativa evidente de colar sua imagem à base bolsonarista, diante do desgaste crescente de sua gestão.

Nos palanques e nos gritos, sobrou agressividade contra o STF. O deputado Nikolas Ferreira chamou os ministros da Corte de “ditadores de toga”, enquanto o pastor Silas Malafaia e outros parlamentares tentavam inflar a moral do grupo com promessas de aprovação da anistia. Uma pesquisa Quaest divulgada neste mesmo domingo, porém, mostrou que 56% dos brasileiros são contra essa proposta, sinalizando que o discurso bolsonarista ainda ecoa dentro de uma bolha.

Outro ponto curioso foi a presença de bandeiras dos Estados Unidos e faixas em apoio a Donald Trump, mesmo após o republicano anunciar tarifas contra produtos brasileiros. A cena ilustra a contradição de um grupo que se autodenomina “patriota” enquanto presta vassalagem simbólica a uma potência estrangeira.

Bolsonaro, por sua vez, aproveitou o ato para reiterar sua tese de perseguição política. Voltou a acusar o ministro Alexandre de Moraes de coagir Mauro Cid em sua delação premiada, e tentou desqualificar os processos que o tornaram réu por tentativa de golpe de Estado. Sem apresentar provas, apostou em sua retórica habitual de desconfiança institucional e culto à própria figura.

As imagens aéreas exibidas pela imprensa desmentiram as promessas megalomaníacas de Malafaia e aliados: no auge, a manifestação preencheu pouco mais de dois quarteirões da Paulista. Longe do “milhão” prometido.

O ato deste domingo, embora barulhento, revelou os limites atuais da mobilização bolsonarista: uma base ruidosa, mas encolhida, sustentada por símbolos vazios, frases de efeito e nostalgia de um poder perdido. A tentativa de transformar batom em arma política pode funcionar como performance estética, mas dificilmente alterará os rumos de um Judiciário cada vez mais firme diante de ameaças à democracia.

Em vez de força popular, restou ao bolsonarismo a encenação de sempre — dessa vez, com batom e bandeiras estrangeiras.