Bateu o desespero: Bolsonaro espalha fakenews e usa medo para conquistar eleitores

Sem calçar as sandálias da humildade, Jair Bolsonaro se colocou como "o bem" na luta contra o "o mal" na tentativa de reter o voto conservador

Foto: Google
Jair Bolsonaro

 

Por Leonardo Sakamoto, jornalista, no facebook 

Sem calçar as sandálias da humildade, Jair Bolsonaro se colocou como "o bem" na luta contra o "o mal" na tentativa de reter o voto conservador, neste sábado (2), em um evento evangélico no Rio de Janeiro. O presidente está preocupado que o derretimento do poder de compra e a queda da renda está fazendo com que parte do seu eleitorado de 2018 sinta saudade da comida na mesa e dos boletos pagos em dia sob o governo do petista.

Para isso, vendeu o combo completo, desinformando a audiência.

"O outro lado quer legalizar o aborto, nós não queremos. O outro lado quer legalizar as drogas, nós não queremos. O outro lado quer legalizar a 'ideologia de gênero', nós não queremos. O outro lado quer se aproximar de países comunistas, nós não queremos. O outro lado ataca a família, nós defendemos a família brasileira. O outro lado quer cercear as mídias sociais, nós queremos a liberdade das mídias sociais", afirmou.

Ao contrário do que diz o presidente, o aborto já é legalizado no Brasil, permitido nas situações de estupro, risco de morte da gestante e anencefalia. Publicamente, Bolsonaro se mostrou a favor de criminalizar mesmo essas situações ao atacar, por exemplo, o aborto em uma menina de 11 anos que ficou grávida após ser estuprada em Santa Catarina. Mas, na vida particular, defendeu, em entrevistas em 2000 e 2018, que a decisão final cabe à mulher.

O petista não defende a legalização das drogas, mas é contra enviar jovens que consomem maconha para a prisão, afirmando que, nesses casos, a questão não é de polícia, mas de saúde pública - mesmo posicionamento que defende para a questão da interrupção da gravidez. Coloca-se pessoalmente contra desde a época que era presidente, mas a favor de buscar formas de evitar que mulheres pobres morram em procedimentos ilegais.

O atual presidente insiste em uma confusão proposital sobre a tal "ideologia de gênero". Defende o discurso de religiosos ultraconservadores que dizem que é necessário censurar professores por estarem "ensinando crianças a serem gays, lésbicas e trans".

Bobagem. Na verdade, podemos chamar de "ideologia de gênero" o pacote construído e lapidado, ao longo da história, por nós, homens, principalmente os brancos e héteros, para forçar e justificar a dominação sobre as mulheres e a população LGBTQIA+. Sim, é irônico, mas ultraconservadores chamam de 'ideologia de gênero' justamente o questionamento da ideologia de gênero que rege o cotidiano como se fosse natural.

É a "ideologia de gênero", portanto, que naturaliza a mulher ganhar menos que o homem pela mesma função no trabalho; que relaciona apenas a ela as tarefas domésticas e o cuidado com as crianças e os idosos; que faz com que um presidente da República preste um silêncio solidário diante do assédio sexual praticado pelo presidente da Caixa contra funcionárias do banco e não seja questionado por isso.

Bolsonaro fala que a campanha do adversário quer aproximar o Brasil de países comunistas. É verdade que, durante sua gestão, Lula tinha boa relação com governantes à esquerda, mas também com governos à direita. A diplomacia brasileira sempre foi independente e pragmática, o que mudou com a chegada de Jair ao poder. Depois disso, passamos a ser vistos como um pária ambiental global e motivo de chacota em qualquer lugar civilizado.

Provavelmente se refere à "tradicional família brasileira" - termo usado por grupos conservadores para criticar núcleos que não sejam formadas por um homem, uma mulher e seus filhos. A princípio parece um ataque aos lares homoafetivos, com dois pais e duas mães. Mas isso também ignora as milhões de famílias que têm conformações próprias - um avô e os netos, pessoas que moram sozinhas, mães solo. Lula não atacou famílias, mas já defendeu que não existe um modelo certo.

O candidato petista também não propôs censurar ou cercear as redes sociais, mas defende regulamentar as empresas que são proprietárias dessas plataformas para que obedeçam as leis de cada país e não sejam uma terra de ninguém.

Quem é contra que as redes obedeçam às leis é o presidente da República, que ficou indignado depois que o Tribunal Superior Eleitoral fez com que empresas como WhatsApp e Telegram prometessem adotar protocolos mínimos para não permitir que sejam usadas para manipular o debate público nas eleições de outubro.

Jair está indo para o tudo ou nada. E se houver golpe de Estado, não serão apenas os fatos e a economia que terão sido assassinados no meio do caminho.