Após 12 anos e depois de ter ficado preso por 580 dias, Lula volta à Presidência

Presidente passou período na prisão, recuperou direitos políticos e formou frente ampla para voltar ao poder

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Lula

CNN - Luiz Inácio Lula da Silva (PT) toma posse neste domingo (1°) como presidente da República pela terceira vez. Agora, terá o ex-adversário político Geraldo Alckmin (PSB) como vice-presidente.

Após 12 anos, o petista volta a comandar o país, após organizar uma frente ampla para disputar as eleições 2022. Ele venceu Jair Bolsonaro (PL) na disputa mais acirrada desde a redemocratização.

Diversos chefes de Estado ou governo vão comparecer à posse, incluindo representantes de Estados Unidos, Alemanha, Argentina, Bolívia, Portugal, Uruguai, Espanha, Venezuela e outras autoridades.

Diferentemente da primeira eleição do petista, 20 anos atrás, em 2002, quando Fernando Henrique Cardoso passou a faixa presidencial pela primeira vez entre dois presidentes eleitos desde a redemocratização, Bolsonaro não passará a faixa.

O ambiente político no país está dividido, fruto de uma campanha eleitoral com troca de acusações entre os candidatos e contestação do processo por parte de Bolsonaro — que se manteve calado por boa parte depois que perdeu no segundo turno.

“Festival do Futuro” e segurança

A equipe de Lula, liderada pela primeira-dama Rosângela Lula da Silva, a Janja, organizou um grande festival para a cerimônia de posse, com ao menos 61 atrações confirmadas.

Entre os artistas confirmados, estão nomes como Martinho da Vila, Pabllo Vittar, Valesca Popozuda, Duda Beat e a recém-anunciada ministra da Cultura, Margareth Menezes.

As apresentações serão em dois horários: das 10h às 13h, recomeçando às 18h30. Durante a tarde, o público poderá acompanhar a transmissão da posse em telões.

Mas as autoridades também estão focadas na segurança do presidente eleito e da população. Além de contar com o reforço da Força Nacional, até 8.000 policiais podem trabalhar para garantir a posse, segundo o futuro ministro da Justiça, Flávio Dino.

Relembre a trajetória de Lula nas eleições de 2022

Anulação das condenações: o início do pleito

Alvo de investigação na Operação Lava Jato, Lula foi preso em abril de 2018, condenado sob acusação de corrupção passiva e lavagem de dinheiro na ação envolvendo o triplex de Guarujá (SP).

Lula permaneceu por 580 dias na prisão, em Curitiba, até novembro de 2019.

Durante esse período, foi impedido de disputar a eleição presidencial de 2018. À época, o PT chegou a anunciar a candidatura de Lula, mas ela foi barrada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com base na Lei da Ficha Limpa.

Em 2021, o ministro do STF Edson Fachin considerou que a 13ª Vara Federal de Curitiba não tinha competência para julgar os casos porque, em seu entendimento, eles não tinham relação direta com a Petrobras.

Posteriormente, a corte julgou o ex-juiz Sergio Moro, responsável pela condenação de Lula, como suspeito nas ações contra o petista.

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Lula e Alckmin

Construção da “frente ampla”

Após a série de vitórias na Justiça, Lula buscou atrair apoio de aliados e até ex-adversários políticos para criar uma “frente ampla” em torno da sua candidatura e em oposição à reeleição de Bolsonaro.

Em setembro, ainda no primeiro turno, oito ex-candidatos à Presidência declararam apoio a Lula em evento com o petista. O maior símbolo dessa frente, assim como da “guinada ao centro”, foi a presença de Alckmin como vice na chapa de Lula.

Em 2006, quando o agora vice-presidente estava no PSDB, eles disputaram o segundo turno da corrida presidencial.

A aliança entre o ex-tucano e o petista foi interpretada como uma sinalização de moderação e aceno a setores refratários ao PT.

No segundo turno, novos nomes declararam apoio a Lula. Entre eles, os candidatos derrotados à Presidência, Simone Tebet, que aderiu à campanha participando de comícios e inserções no horário eleitoral do petista, e o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), quarto colocado na disputa pelo Planalto.

O pedetista seguiu a orientação do seu partido, mas, ao declarar apoio à candidatura do PT, não citou o nome de Lula e não participou da campanha do segundo turno.

Os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e José Sarney (MDB) também manifestaram voto a favor de Lula no segundo turno.

A caminhada ao centro do petista foi ainda mais acentuada nas semanas finais da campanha eleitoral, quando ele recebeu apoio o ex-ministro da Economia Henrique Meirelles (MDB) e de Pérsio Arida, um dos idealizadores do Plano Real, além de outros economistas ligados aos governos de FHC.

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Segundo turno marcado por ataques

O segundo turno da eleição presidencial foi marcado pela troca de ataques entre Lula e Bolsonaro e a propagação de desinformação por parte das campanhas. Na tentativa de aumentar a rejeição do adversário, os candidatos destacaram temas como religião, aborto e pedofilia.

O TSE chegou a conceder 164 inserções a Lula na propaganda eleitoral de Bolsonaro como direito de resposta por seu adversário associá-lo a criminosos. Após o cálculo da decisão ser refeito, o petista pôde veicular 24 inserções.

Propagandas de Lula também foram retiradas do ar pelo tribunal. Em uma delas, a campanha petista associava Bolsonaro ao canibalismo, retirando frases do então presidente de contexto.

Nas redes sociais, o TSE determinou que fossem elaborados relatórios diários sobre as postagens das redes sociais do vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (Republicanos), filho do presidente e responsável pelo marketing digital da sua campanha, e do deputado federal André Janones (Avante-MG), que liderou a estratégia digital da campanha petista.

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A trajetória política de Lula

O 39º presidente do Brasil nasceu em Caetés, que, à época do seu nascimento, pertencia ao município de Garanhuns, em Pernambuco. Durante a infância, migrou para o estado de São Paulo. Iniciou a carreira política como presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, nos anos 1970.

Em 1980, fundou o Partido dos Trabalhadores (PT). Candidatou-se a governador de São Paulo em 1982 e, em 1986, foi eleito deputado federal. Na ocasião, participou da Assembleia Constituinte, responsável pela elaboração da Constituição de 1988.

Disputou as eleições de 1989, 1994 e 1998 ― terminando todas elas na segunda colocação ― até ser eleito em 2002 e reeleito em 2006.

Em 2010, no último mês do seu governo, 83% dos entrevistados pelo Datafolha avaliaram a gestão de Lula como “boa ou ótima”.