A pizza esperada do inquérito contra Bolsonaro

Mesmo que haja elementos comprobatórios de pelo menos um dos crimes supostamente cometidos, é difícil o procurador-geral fazer a denúncia

Foto: DCM
Augusto Aras vai confirmar ser o novo "engavetador-geral" da República?

O mais provável, realisticamente destacando, é que termine em pizza “a semana decisiva” cujo primeiro dia útil é esta segunda-feira (11-5). Mesmo que haja elementos comprobatórios de pelo menos um dos crimes supostamente cometidos pelo presidente Jair Bolsonaro, de corrupção passiva privilegiada, obstrução da justiça e advocacia administrativa, por interferir na autonomia da Polícia Federal (PF), é difícil acontecer algo. O previsto é que o procurador-geral da República, Augusto Aras, arquive o inquérito.

Como se sabe, procuradores e delegados federais investigam a veracidade das acusações do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, relatando ter pedido demissão do cargo porque o presidente o pressionou para exonerar o então diretor-geral da PF. Segundo o ex-juiz federal, Bolsonaro queria fazê-lo engolir a troca tanto do diretor-geral Maurício Valeixo quanto do então superintendente da PF no Rio de Janeiro, Carlos Henrique Sousa. Ambos eram ou são da confiança de Moro, o que deixou Bolsonaro inconformado.

Talvez o grande elemento a eventualmente pressionar Aras a denunciar Jair seja a divulgação do vídeo – ou parte dele – da reunião ministerial ampla, realizada no Palácio do Planalto, dia 22 de abril deste ano. Quando o presidente teria cobrado, de forma direta e ríspida, a substituição do diretor-geral da PF e do superintendente do órgão no Rio de Janeiro, Sérgio Moro fora provavelmente humilhado diante de vários ministros e assessores do governo federal.

Ataques ao Supremo

Há também informações de que, na reunião, alguns dos respectivos participantes de primeiro escalão, como o chanceler Ernesto Araújo, teriam feito duras críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF). Se o vídeo for, de forma efetiva, divulgado por determinação do ministro do STF, Celso de Mello, que autorizou a abertura do inquérito, pode ser que haja alguma reviravolta no caso. Diante da esperada repercussão negativa em torno do registro, não restaria alternativa ao procurador-geral, que assim faria a denúncia contra Jair.

Mas, considerando o momento atual, de apatia das instituições frente à escalada autoritária do governo e aos abusos do presidente apontados como crimes comuns e de responsabilidade, é pouco previsível que tanto o vídeo seja divulgado como a denúncia formalizada e encaminhada ao Congresso Nacional. O Brasil, como diria Tom Jobim, não é um país para amadores. Ainda mais na atual conjuntura de fragilização crescente da democracia e profundas conjugadas crises sanitária, socioeconômica, política e institucional.

Todos sabem que Aras, em que pese seu papel institucional, de independência, e suas obrigações constitucionais, é homem de “confiança” de Bolsonaro, que o nomeou ao cargo à frente do Ministério Público Federal (MPF), mesmo fora da lista tríplice de candidatos eleitos pelos procuradores, para ocupar este posto. O que está para acontecer, portanto, é mais um ato da nova versão do chamado “engavetador-geral” Geraldo Brindeiro, que arquivou tudo que denunciava o então presidente Fernando Henrique Cardoso.