A missão de um governador fora do armário

Um governador precisa usar as estruturas de Estado para que, além de se declarar gay, trabalhe em favor do respeito às liberdades

Foto: Reprodução
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB)

 

Por Moisés Mendes, jornalista, em seu Blog

Figuras públicas saem do armário da mesma forma que as pessoas comuns? Não, claro que não. Pessoas comuns não têm o poder, a representação, as proteções e a força simbólica de quem tem função pública, por mandato ou por nomeação.

Para as pessoas em cargos políticos, ao contrário do que disse o governador Eduardo Leite ao se declarar gay em entrevista a Pedro Bial, a orientação sexual não é uma não-questão.

Deveria ser uma não-questão para todos os cidadãos e as cidadãs comuns, para um pedreiro, uma professora, um engenheiro, uma advogada, um(a) estudante criança ou adolescente, uma bancária, um gari, uma faxineira, um enfermeiro, uma médica.

A orientação sexual-afetiva-amorosa das pessoas deveria deixar de ser assunto e um x num cadastro. Um dia, essa será uma não-questão para todos.

Mas hoje, para figuras públicas, essa é sim uma questão relevante. Para quem tem mandato e poder, a orientação sexual não é uma não-questão.

É cada vez mais uma questão a ser sempre explicitada. A afirmação das diferenças e da diversidade depende dos gestos das figuras públicas que assumam o enfrentamento dessa realidade.

Para um governador, ser gay é uma questão pessoal e uma questão coletiva, ou ele estaria dizendo que a questão da orientação sexual é irrelevante para um político.

Não é irrelevante para um governador, um deputado, um vereador, um ministro, um secretário municipal. Não deveria ser para um presidente que não fosse fascista. A entrevista a Pedro Bial prova que não é irrelevante.

Eduardo Leite tem agora outro desafio, que não é o mesmo das pessoas comuns sem os escudos que os homens públicos têm.

As pessoas comuns, submetidas a todo tipo de discriminação e violência em seus cotidianos, não têm poder, orçamentos, gente, as prerrogativas e a obrigação de implementar políticas públicas pela diversidade, em todas as áreas.

Um governador tem esse poder e esse dever. Um governador precisa usar as estruturas de Estado para que, além de se declarar gay, trabalhe em favor do respeito às liberdades, todas as liberdades.

E isso vai muito além de declarações e discursos. É muito mais do que uma prova de coragem pessoal e de desprendimento. É hoje, num mundo cada vez mais absolutista, obrigação do homem público, mais até do que de artistas e celebridades.

A um governador gay não basta dizer que é gay. Que Eduardo Leite deixe de ser omisso e oriente sua atuação como homem público a partir de agora nessa direção do acolhimento, da afirmação e da militância pelo respeito às diferenças.

Será bom para todos, e não só para as brasileiras e os brasileiros LGBTQIA+. Boa luta, governador.