A falsa nota de rendição

Foto: Evaristo Sa/AFP
Jair Bolsonaro

 

Considerando o seu histórico como parlamentar do chamado “baixo clero”; considerando a sua prática no exercício do Executivo; considerando a tentativa de golpe no 7 de setembro; considerando o contexto fake news, que caracteriza o atual governo brasileiro; considerando a labilidade emocional entre os adeptos bolsonaristas; considerando o grande dano econômico ao país; considerando a tentativa de sabotar a institucionalidade do estado brasileiro e outros atos antidemocráticos. Pode-se afirmar, sem sombra de dúvidas, que a nota (ou carta) ao povo brasileiro é parte de um jogo farsante, além de ser um sinal explícito do total fracasso da tentativa de golpede estado, é uma falsa nota de rendição do “líder condutopata”.

Primeiro, o eleitor bolsonarista não irá mudar a empatia nem a índole – sádico, racista, homofóbico, autoritário, provocativo, tirano, misógino, agressivo, ególatra, instável, subletrado, impulsivo, explosivo, sem empatia, ética e valores morais distorcidos (desprezo às leis, as normas e às diferenças socioculturais) – só porque o seu falso mito publicizou uma nota, supostamente revelando a sua mea máxima culpa.

Segundo, mesmo demonstrando certa força popular, a ideia da falsa nota de rendição surgiu na noite de quarta-feira (08/09) quando Temer e Bolsonaro conversaram portelefone, para criar uma cortina de fumaça institucional. O teor do texto foi redigido pelo marqueteiro Elsinho Mouco, sob a supervisão do ex-presidente Michel Temer – partícipe do golpe midiático-jurídico-parlamentar de 2016.O marqueteiro é, também, mais um elo da atuação de Bolsonaro na campanha de Celso Russomanno à prefeitura de São Paulo.

Terceiro, o teor do texto não retrata nem revela o caráter bolsonarista de ser – nem estadista nem pacificador nem constitucionalista. É preciso relembrar que, em 1999, quando Bolsonaro estava acuado, com medo de perder seu mandato de parlamentar por pregar um golpe, ele “escreveu” uma carta de cinismo para Michel Temer, presidente da Câmara dos Deputados, que exatamente como agora montou uma operação com o Centrão e o salvou da cassação.

Quarto, a falsa nota de rendição de Bolsonaro não é produto de uma possível inteligência estratégica no xadrez político nacional (do tipo a “Arte da Guerra”, de Sun Tzu)ou de superação da “política de cercadinho”. Na verdade, como não conseguiu dá um golpe de estado, nãoencurralou o STF e o Congresso Nacional, mesmo cometendo crimes de responsabilidade e ataques com discussões antidemocráticos, a falsa nota de rendiçãobolsonarista é resultado das pressões e medos que rodeiam o clã do Palácio do Planalto.

Quinto, a falsa nota de rendição é um alento passageiro à elite econômica e a Bolsonaro, que, mutuamente, não são confiáveis. Depois do 7 de setembro, de se esconder sob pressão e subserviência a Bolsonaro, de forma covarde e oportunista, a direção da FIESP divulgou manifesto, politicamente esvaziado e tosco, onde pede a pacificação política e a estabilidade institucional. Ou seja, como não houve o autogolpe de estado, agora a elite econômica nacional diz está do lado do povo brasileiro.

Portanto, não se deve acreditar que da noite para o dia Bolsonaro sofreu uma metamorfose de caráter e entendeu que Democracia é respeitar o estado e as instituições. A nota farsante é uma cena no teatro de horrores bolsonarista, para distrair os desatentos de que não tentará um golpe de estado e que está curado da condutopatia. Parafraseando Karl Marx (1818-1883), “[...] a história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa (MARX, K., Dezoito Brumário de Louis Bonaparte, 1852).