A disputa pesada que ocorre na definição de ministros no governo Lula

Uma análise de Rudá Ricci

Foto: Divulgação

 

Por Rudá Ricci, cientista social, no twitter 

Bom dia. Farei um breve fio sobre a disputa realmente pesada que ocorre na definição de ministros para algumas áreas. Não citarei nomes - dado que seria entrar nesta disputa -, mas as causas da disputa. Lá vai:

1) Comecemos pelo estilo Lula, marcada pelo estímulo à disputa, em especial, quando o ministério está na cota do seu partido. Eu acompanhei de perto algumas dessas situações, quando da reeleição em 2006 e, volto a perceber que o expediente foi aplicado agora

2) É comum que Lula ligue para algum ministeriável e sonde seu nome. No caso de ser petista, apresenta o congestionamento de nomes dentro do partido e pede para que o sondado se "viabilize". Daí começa a movimentação, incluindo imprensa.

3) Nessas situações, o ministeriável se expõe, mesmo que tente ser discreto, o que leva à reações de outros candidatos à pasta ou correntes distintas em seu partido ou aliados. Assim, a disputa faz parte desta lógica. Na prática, Lula se fortalece como moderador

4) Há outros ingredientes nesta disputa que, no momento, envolve educação, planejamento e cultura, dentre outras pastas. Citarei três fatores contribuintes:

5) O primeiro é a disputa entre forças, o que envolve disputa entre expoentes petistas e outras lideranças de partidos aliados. Não é desconhecido de muitos a disputa entre Aloizio Mercadante e Fernando Haddad pelo Ministério da Fazenda. Uma disputa paulista, mas não só

6) Mercadante coordena a Fundação Perseu Abramo e se aproximou das secretarias nacionais do PT (que reclamavam dos poucos recursos disponíveis). Haddad é candidato ao governo paulista em 2026. A visibilidade da área econômica pode definir suas chances.

7) Uma segunda disputa se dá entre o setor empresarial - muito próximo de Geraldo Alckmin, mas também de Mercadante - e o campo denominado democrático-popular (envolvendo organizações populares e movimentos sociais). Aqui, a briga é mais dura.

8) O setor empresarial, como faz desde 1986, se articulou muito rapidamente. Alguns indicados como ministeriáveis saíram à campo e deram entrevistas quase diárias. A grande imprensa se alinhou a esses nomes. Acontece que esta exposição desagrada Lula.

9) Que fique claro: Lula quer o empresariado próximo. Não se trata de rejeição principista, mas de estilo de fazer política. Alckmin, parece, está afinado com esta busca de equilíbrio. Mas, o fato é que tal movimentação empresarial estimulou a reação do campo popular

10) Há outra disputa em curso: entre os que sugerem um governo moderado, de reconstrução nacional, e a ala que sustenta avanços sociais e de organização social que minem as bases do fascismo brasileiro e criem um parâmetro de organização estatal e políticas públicas

11) Lula parece pender para uma visão mais conciliatória. A entrevista de ontem (ao G1) do futuro ministro da Defesa sinalizou esta postura: chegou a elogiar Bolsonaro.

12) Porém, para ser um governo equilibrado é preciso dar espaços aos múltiplos apoios e identidades políticas. O que dá chance a muitas correntes de pensamento e representação.

13) O fato é que é preciso ter mito sangue frio não apenas para montar um governo de composição, mas também para analisá-lo. Há muita informação rodando nos bastidores, parte delas estimuladas por candidatos a algum ministério.

14) Com tanto trânsito congestionado, somente um craque para manejar e dirigir seu time. Mas, eu arriscaria a dizer que muitos dos nomes que assumirão a foto na posse de Lula não estarão por muito tempo nesta foto. A fila tende a andar. (FIM)