76% das pessoas mais pobres no Brasil são negras, diz IBGE

76% das pessoas mais pobres no Brasil são negras, diz IBGE

O IBGE mostrou que 76% das pessoas mais pobres no Brasil são negras. O Unicef revelou que a mortalidade infantil da população negra é 40% maior do que o da população branca. Os negros recebem salários que são 40% menores do que os dos brancos, e o desemprego da população negra é 50% acima, se comparado com o percentual dos trabalhadores brancos. "E, nas crises, são os negros os primeiros a perderem o emprego, como observamos na crise atual", observou a senadora Regina Sousa em discurso nesta segunda, 20, Dia da Consciência Negra, no Senado Federal.
A senadora piauiense comparou dados levantados por estudos feitos desde a década de 1950, pelas Nações Unidas, com outros divulgados recentemente pela CPI que investigou os assassinatos de jovens no Brasil, relatada pelo senador Lindbergh Farias (PT-RJ). Ela mostrou que o país tido e havido como democracia racial encontra-se, atualmente, diante de seus próprios fantasmas, pois o patrimonialismo secular, o autoritarismo das elites, a desigualdade e a mobilidade social seletiva continuam sendo estorvos à concretização do ambiente democrático.
“A escravidão acarretou tanto a chaga do racismo quanto a do preconceito e da discriminação racial. Precisamos enfrentar o desafio de purgar o mais importante dos nossos problemas sociais, que é o racismo, questão que se relaciona fundamentalmente às sequelas provenientes de mais de três séculos de vigência do regime escravista”, desafiou, lembrando que as desigualdades sociais, notadamente as de renda e principalmente as de oportunidade, têm, na diferenciação racial, a sua explicação.
O senador Paulo Paim (PT-RS) também lamentou que após quase quatro séculos de escravidão dos negros – o que foi a base da economia do País durante os períodos colonial e imperial – ainda hoje a população afrodescendente tenha um risco 23% maior de ser assassinada e continue sub-representada na política. “Estudos do programa das Nações Unidas para o PNUD demonstram que o nível de qualidade [de vida] da população negra está ainda há décadas atrasada em relação àqueles que não são negros. Mas, como disse o apresentador de televisão, enfim, isso é ‘coisa de preto’”, afirmou Paim.
Regina disse ainda que o racismo está incrustrado nas relações sociais em geral, atuando como uma espécie de filtro social, abrindo oportunidades para uns, fechando portas para outros, “a desenhar uma sociedade extremamente desigual e injusta, cujas bases iníquas estão assentadas na clivagem racial”.
A senadora apontou que a superação está na educação das crianças, porque, em sua opinião, os adultos já estão com o sentimento do racismo introjetado. “A gente até se policia, mas às vezes escapa. Há as piadas que se contam na maior naturalidade, as frases que se dizem sem pensar”, disse. Na opinião de Regina, as crianças aprendem e incorporam as ideias para sempre. “Há que se educar para não se sentir diferente. É preciso dizer que a criança negra não é diferente da criança branca, sentar os dois, mostrar que têm o mesmo corpo, que apenas a cor da pele é diferente, e isso não pode justificar um agredir o outro”.
Regina terminou seu discurso recitando trecho de música dos compositores piauienses Cineas Santos e Feliciano Bezerra em que eles ironizam o racismo escondido em ditados populares: “Eu não sujei lá na entrada / Eu não sujei pela vida / Mas só para aborrecer / Só para ver feder / Vou sujar na saída / E eu quero ver / Quando feder / Quem vai limpar”.