Pensar Piauí

Que ministério é esse?

Que ministério é esse?

OBS: O economista Deusval escreveu sobre o ministério do presidente golpista Michel Temer. O pensarpiaui.com ilustra o texto com foto da posse dos golpistas de 1964 e 2016. Cinquenta e dois anos se passaram, as semelhanças não! Ao texto de Deusval Lacerda:
Na década de 1980, o cantor e compositor Renato Russo, líder da Banda Legião Urbana, compôs e gravou a famosa música que alarmou os brasileiros com o estupefato título: Que País é Esse? Cuja primeira estrofe, praticamente em premonição com o que aconteceria no futuro próximo, ou seja, no momento atualmente vivido no Brasil, dizia: "Nas favelas, no senado / Sujeira pra todo lado / Ninguém respeita a constituição / Mas todos acreditam no futuro da nação".
Observando a comédia pastelão no Congresso Nacional na votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff se percebe claramente as manobras políticas partidárias para abocanhar o poder com ranhuras na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, mas os golpistas fizeram questão de afirmar que o que estavam fazendo era exatamente por acreditarem no futuro da Nação.
Futuro este, inclusive, que há poucos dias atrás era mais fácil um camelo passar no fundo de uma agulha do que Michel Temer galgar a Presidência da República nos moldes democráticos, a não ser por renúncia ou morte da presidente Dilma Rousseff. Agora, feito o arranjo constitucional, liderado pelo acusado Eduardo Cunha, o tal peemedebista foi agraciado com a Presidência da República.
Mas isso tem um preço: a divisão do poder entre os envolvidos. Para tanto, entraram em ação as manobras políticas, jurídicas e institucionais que sempre fizeram parte do repertório historiográfico do Brasil. E agora, mais do que nunca, urdidas pelos responsáveis diretos pelo golpismo com sérios reflexos nas crônicas mazelas nacionais.
Passamos ao ministério imposto à sociedade brasileira:
Ministro Gilberto Kassab da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. Três dias antes da votação da Câmara dos Deputados era ministro da presidente Dilma Rousseff. Fundador e ex-presidente do Partido Social Democrático (PSD), e que disse que a sua sigla não tinha ideologia, deixando claro que a qualquer momento poderia participar de qualquer governo. Foi facilmente cooptado para a turma do Temer.
Ministro Eliseu Padilha da Casa Civil. Este topa qualquer ministério. Foi ministro dos Transportes do FHC. Até outro dia era ministro da Dilma. Com tantas oportunidades, nunca colocou o Brasil no rumo do desenvolvimento que agora apregoa, ao contrário, serve a quem está na onda. Ministro Raul Jungmann da Defesa. Foi ministro de FHC e ajudou a deixar o Brasil em profundo marasmo econômico em 2002. O deputado Sarney Filho do Meio Ambiente, também do governo FHC, dispensa-se qualquer comentário.
Ministro Romero Jucá do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão. É difícil se livrar do Romero Jucá. Serviu os governos militar (João Figueiredo), Sarney, Collor, FHC, Lula e no da Dilma indicou o irmão, Oscar Jucá Neto, para a diretoria financeira da Conab. Em trinta dias de cargo foi exonerado por suspeita de corrupção. Romero Jucá está na lista dos investigados da operação Lava Jato pelo procurador Rodrigo Janot.
Geddel Vieira Lima é outro conhecido dos brasileiros. Segundo a revista Época de 20/01/2016: "De acordo com o jornal "O Globo", o presidente do PMDB da Bahia, Geddel Vieira Lima, trabalhava para facilitar a tramitação de contratos da empresa de Léo Pinheiro (OAS) em diversas instituições públicas".
Ministro Bruno Araújo das Cidades. Parlamentar tucano que carrega o único trunfo por ter sido o 342" votante da Câmara pelo impeachment, ou seja, o voto que garantiu a presidência do Temer. Ministro Mendonça Filho da Educação e Cultura. Deputado federal do DEM, partido que veio do famigerado PFL, que se originou do velho PDS, que substituiu a malfadada ARENA, o partido oficial do Regime Militar.
Ministro Osmar Terra do Desenvolvimento Social e Agrário. Parlamentar gaúcho que representa o PMDB do Rio Grande do Sul. Ministro Ricardo Barros da Saúde. Parlamentar do PP e engenheiro desconhecido da saúde pública brasileira. São aqueles das adesões de última hora: que um lado vai procurar o apoio e o outro já sai correndo para apoiar. Deputado Hélder Barbalho da Integração Nacional, filho do senador Jader Barbalho (do caso SUDAM), e ex-ministro da Dilma.
Ministro Henrique Alves do Turismo. Este é velho conhecido do Brasil velho. Foi também até ontem ministro da Dilma. É outro investigado na operação Lava Jato. Ministro Ronaldo Nogueira Oliveira do Trabalho é representante da bancada evangélica, são extremados direitistas nas posições ideológicas. Maurício Quintella dos Transportes, Portos e Aviação Civil é indicado do PR. Ministro Marcos Pereira do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, presidente do PRB.
Vamos parar por aqui. Não precisa nem analisar os outros da área econômica porque dá calafrios. São aqueles que subiram na vida fechando com os grandes conglomerados econômico-financeiros americanos, que na atividade pública defendem a ortodoxia do neoliberalismo do Consenso de Washington, que por isso não possuem sensibilidade social, mas o tato monetarista do vil metal.
Sobre as pastas ministeriais acima referenciadas, não é necessária nenhuma engenharia político-administrativa para se depreender que os ocupantes estão lá unicamente pelo que foi acordado com os respectivos partidos políticos para derrubar a presidente Dilma Rousseff. Pois está comprovado que eles não têm a envergadura técnico-científico-profissional para ocuparem esses órgãos, pois tal fato ocorreu na combinação dos votos no Congresso para contrapor a representatividade popular da presidente.
Por fim, eu digo: "Nesse mandato usurpado eles acreditam no futuro para o ludibrio da nação".

ÚLTIMAS NOTÍCIAS