Pensar Piauí

O ocaso do Brasil

O ocaso do Brasil

Foto: GoogleBrasil
Brasil

Por Sérgio Fontenele, jornalista Alguém, em sã consciência, não poderia esperar, há pouquíssimo tempo, viver um momento nacional tão difícil e dramático como o atual. Principalmente, considerando os avanços deste País, experimentados no campo da democracia e inclusão social. Por essa não aguardaria o cidadão brasileiro que ama seu País e valoriza, de fato – e não apenas por meio da demagogia que camufla um neofascismo tropical –, aspectos como soberania e democracia. Os retrocessos, em todos os campos, inclusive educação, ciência e cidadania, são impressionantes. Destaque para a lamentável afirmação do ódio, preconceito, obscurantismo enquanto instrumentos de divisão político-ideológico-espiritual da população. O pano de fundo de tal separação propiciou a emersão de um governo que usa o conflito como instrumento para o exercício do poder. Conquistas tão duramente alcançadas pela sociedade, ao longo de cinco décadas, estão caindo por terra. Tudo aquilo obtido no processo de redemocratização, resistir e superar a ditadura militar, iniciada em 1964, parece em jogo. Isso vale para o resgate do direito de votar diretamente para presidente da República. Envolve a gigantesca articulação para promulgar a Constituição Federal cidadã, de 1988, e aperfeiçoar direitos sociais, arduamente logrados. Sob ameaça, a grande vitória da inclusão social e a retirada do Brasil do mapa da fome mundial. Fica incerta a intensa valorização da diversidade racial, cultural e étnica, as maiores riquezas desta nação. Perde-se o timing do encontro do País com sua vocação natural e inexorável de protagonismo geopolítico global. Desmonte e estripação Ao contrário, retorna uma submissão atávica, própria das colônias, ao poderio usurpador dos EUA, algo inimaginável até então. Perplexos, todos assistem ao desmonte do estado brasileiro, o que inclui a Petrobras, que está sendo estripada. Liquidada em pedaços, a principal empresa nacional vai perdendo o domínio estratégico energético. Sob duro ataque, de inspiração fundamentalista de uma extrema direita, também vão sendo desmontadas as universidades federais, patrimônio nacional, por sua pluralidade, autonomia e excelência. Talvez sejam obrigadas a fechar suas portas a partir de agosto, estranguladas por cortes inaceitáveis de verbas. O Centro de Lançamento de Alcântara, que deve ser entregue aos norte-americanos, é outro ponto antisoberano. Se aprovado no Congresso Nacional, esse acordo dará total controle da Base de Alcântara aos EUA, sem qualquer transferência tecnológica. Até o espaço aéreo brasileiro seria dominado pelos yankees, cujo notório objetivo é impedir o desenvolvimento de foguetes espaciais nacionais, mais um triste sinal do ocaso do Brasil. Com isso, o programa espacial brasileiro será podado, e deve morrer, por inanição e subserviência aos interesses de uma potência estrangeira. Como bem expressou a cineasta Petra Costa, em seu belíssimo, preciso, necessário, porém sombrio longa-metragem, o documentário Democracia em Vertigem, a brasilidade se transformou numa experiência vertiginosa, de não saber que o tão esperado futuro pode ser o abismo. Ou talvez não haja futuro à concepção de um projeto de país livre, pujante e soberano.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS