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Nordeste foi o dique que impediu o alagamento fascista, a hora agora é de montar açudes de resistência pelo país

Nordeste foi o dique que impediu o alagamento fascista, a hora agora é de montar açudes de resistência pelo país

Por Ricardo Miranda, no Gilberto Pão Doce Ontem eu falava em “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, de Gláuber Rocha, a miséria no nordeste brasileiro, a alusão à Guerra dos Canudos, os cangaceiros, os fanáticos religiosos, a vida entre o sertão e o mar. Por uma dessas coincidências, essa é a Semana do Nordestino, criada para homenagear o poeta popular Antônio Gonçalves da Silva, conhecido como Patativa do Assaré. Poderia ter sido criada ontem para homenagear os 15,3 milhões de nordestinos que, pelo menos por 20 dias, salvaram o país de já ter um ditador eleito – esse paradoxo nacional – na Presidência, permitindo o segundo turno da disputa entre o petista, Fernando Haddad, candidato de Lula, e o militar da reserva, o jagunço da direita. Como todos já sabem, o candidato do PSL venceu em todos os estados do Centro-Oeste, do Sudeste e do Sul. Já Haddad teve seu melhor desempenho no Nordeste, onde teve a maior parte dos votos em 8 dos 9 estados e em 3 das 9 capitais. Derrotado com quase 2,5 milhões de votos a menos do que Haddad nos nove estados, Bolsonaro deve reforçar sua campanha na região, além de seduzir os eleitores de Ciro Gomes, que já declarou #EleNão. E que, com os 12,5% de votos recebidos no primeiro turno, será um dos principais pesos políticos na balança do segundo turno. E se o Nordeste foi o dique que impediu o alagamento fascista, Haddad terá não só que preservar e até ampliar os votos nordestinos – violência e igrejas frearam avanço de Haddad no Nordeste – como recuperar o voto dos pobres, historicamente mais identificados com o PT, só que não nesse primeiro turno – nas demais regiões com o país. Montar com a militância, e com programas eleitorais fortes, açudes eleitorais, onde cada barreira conta. Desconstruir o antipetismo é a chave, mas também é preciso recolher os terços, esquecer o exorcismo, que não está adiantando, e mostrar a inexperiência administrativa e o radicalismo tosco que são as marcas de Bolsonaro. Aliás, é terrível ver – embora não tivesse dúvida de que isso aconteceria – as agressões e ataques contra nordestinos, desde que os resultados saíram na noite de domingo. Não me peçam para reproduzir aqui. O mínimo que estão propondo é a separação do Nordeste do Brasil, já batizado de Cuba do Sul, Venezuela, essas baboseiras da direita. Isso por gente que votou em Alexandre Frota, Kim Kataguiri, Arthur Mamãe Falei, Joyce Hasselmann, Tiririca, Celso Russomano, Janaina Paschoal, Marco Feliciano, e, claro, em Bolsonaro e filhos. Todos surfando na onda fascista. A cadela do fascismo salivando a cada palavra de ordem dos líderes da nova direita. O vírus do ódio. Que parece estar contaminando o organismo social, inoculado para destruir o sistema imunológico e atingir níveis epidêmicos. Esta madrugada, o mestre de capoeira Romualdo Rosário da Costa, 63 anos, o Moa do Katende, foi morto com 12 facadas nas costas, em um bar no Engenheiro Velho de Brotas, região central de Salvador, após uma discussão política em que se disse eleitor do PT. Assassino: um eleitor de Bolsonaro. Mississipi em Chamas. The Purge: Election Year. Vão começar agora a degolar e enforcar petistas, como propõem alguns posts de defensores do candidato? Moa do Katende não poderá festejar os 64 anos que iria completar no dia 29 deste mês. Mas poderá virar um dos símbolos desse segundo turno.

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