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Marcus Stephen: "Dividir pra quê?"

Marcus Stephen: "Dividir pra quê?"

Por Marcus Stephen, professor de história da rede estadual Nosso país vive um momento terrível, onde a normalização do discurso de idolatria a personalidades políticas parece tomar conta de todos. De um lado vemos os lulistas, que colocam o ex-presidente Lula em um pedestal acima de todos, quase um santo imortal. De outro, vemos os bolsonaristas, que idealizam em mito o atual presidente Bolsonaro, quase um deus. Ambos os grupos estão errados, já que os dois líderes são seres humanos. Lula está preso e enquanto foi presidente da república ele e sua equipe de governo promoveram grandes mudanças sociais no país, o Brasil viu sua industrialização crescer (ainda que num índice muito aquém do esperado), melhorou os números da educação, reduzindo o índice de analfabetismo e ampliando o acesso às universidades (muito embora o ensino de modo geral ainda esteja bem longe do que se pode considerar bom) e transformaram o país numa potência crescente atuando na política externa de forma eficiente e buscando o diálogo com países de todas as vertentes ideológicas (apesar da decisão duvidosa de emprestar dinheiro a países cujo risco de retorno era muito alto, como Venezuela). No entanto, apesar disso, foi um período marcado por casos de corrupção dentro e nos arredores do governo, mensalão, envolvimento de ministros com propina e prisão de membros do alto escalão do Partido dos Trabalhadores, são um exemplo. Bolsonaro é o atual presidente, e tem pouco mais de 100 dias à frente do governo, no entanto, nesse curto período, já tivemos inúmeras denúncias feitas contra o mesmo e seus arredores, envolvimento com milícias no Rio de Janeiro, laranjas no PSL (partido de Bolsonaro), além do descontrole administrativo, com trocas constantes de cargos no primeiro e segundo escalões de algumas pastas importantes do governo federal (deixando claro o amadorismo e improviso em toda a equipe governista). Na política externa, Bolsonaro buscou uma aproximação extrema com EUA e Israel e, com críticas e atos, afastou o Brasil de países com presidentes de esquerda, como a China. Além disso, Bolsonaro e sua equipe vem acumulando declarações polêmicas, como comemorar o Golpe de 64, publicação de video pornográfico em canal oficial do presidente, declarações de que o nazismo é de esquerda, mandar o Hamas “se explodir” (neste caso, o filho do presidente) causando mal estar com os países árabes e muçulmanos. Entretanto, ainda é cedo para definir como será o governo Bolsonaro, portanto, devemos aguardar. Mas o foco desse artigo são os fãs. Os lulistas e bolsonaristas (ou bolsominions), tem se tornado a cada dia mais extremos. A discussão vem se tornando mais rara e difícil, dando lugar a ofensas pessoais e de baixíssimo calão, amizades perdidas, famílias mais desunidas, e discussões sem sentido dominam as redes sociais em todas as suas faces. Ambos os políticos, são humanos, não mitos, ou santos, ou deuses, são apenas homens e como tal devem ser tratados. Suas vidas públicas, devem ser analisadas e vistas como a imagem que o Brasil quer passar ao mundo, e suas qualidades e defeitos devem ser cuidadosamente pesados e analisados. E nesse quesito, a prisão de Lula, causa desconforto por ele ter sido um presidente muito bem visto internacionalmente, mas também causa tranquilidade por demonstrar que, apesar de sua popularidade o sistema judicial brasileiro pode atingir qualquer um. As declarações de Bolsonaro, vem reposicionando a visão que o mundo tem do Brasil de uma forma extremamente negativa, suas declarações sexistas, homofóbicas, racistas e seu posicionamento armamentista, começam a dificultar as relações internacionais do país, por fazer o mundo ver o Brasil como um país que compartilha essa visão problemática e discriminatória com o presidente, entretanto, reforço, ainda é cedo para saber como serão os 4 anos vindouros. Infelizmente, os fãs de ambos acabam proporcionando as mais bizarras confusões na internet e fora dela. A discussão, que deveria ser sobre como melhorar o país, tornou-se uma polarização sobre quem é coxinha ou mortadela, quem é minion ou petista, quem é direita ou esquerda. E isso apenas gera a mais absurda quantidade de ofensas gratuitas, com brigas virtuais e reais entre amigos, familiares e desconhecidos. O país se divide, e mesmo quando alguém tenta atuar de forma crítica e imparcial, alguém “empurra” essa pessoa para algum lado, apenas com o mero intuito de ofender e sentir-se superior. O correto é que todos entendam que a discussão política é importante e necessária, e deve começar cedo. Pois somos todos seres sociais e, como tal, tudo o que fazemos em sociedade é um ato político. Partidarismos, não interessa de que lado, servem apenas para separar e destruir a sociedade e, por isso, devem ser evitados e combatidos. O Brasil ainda é um só e se não começarmos a rever a forma como são feitas as críticas, em breve poderá ser mais de um.

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