Imprensa condenará Moro, mas não vai absolver Lula
Na sexta-feira (05/07), a revista Veja trouxe a capa escancarando a parcialidade do ex-juiz e agora ministro Sergio Moro.
A reportagem bem completa mostrava mais conversas comprometedoras entre Moro e o “coordenador” da Lava Jata, o procurador Deltan Dallagnol.
Causou furor até na esquerda, que saiu em polvorosa para comprar a revista (já garanti a minha, mesmo de longe). E, na mesma edição, a matéria:
“Palocci: Lula desviou propina do PT para eleições no Peru e na Bolívia”.
Lembremos que a delação de Palocci está também sob suspeita e que ela é sempre requentada pela imprensa para atacar Lula.
E vamos observar também que a ideia de que o PT recebeu de fato propina já está confirmada pela chamada – não há versão em contrário.
E, então, no domingo (07/07), a Folha de S. Paulo traz mais vazamentos, desta vez, mostrando articulações da dupla dinâmica para expor dados sigilosos sobre a Venezuela.
No entanto, a Folha de S. Paulo, na versão impressa, traz a seguinte manchete: “Maioria critica a conduta de Moro, mas considera justa prisão de Lula”
O velho “mas” modalizador da Folha, tantas vezes usados quando o assunto política econômica era positivo para os governos petistas, volta à cena.
Ele cumpre a função, entre outras, de tirar o impacto positivo do primeiro enunciado (Maioria critica a conduta de Moro), modalizando com outra informação de peso.
Desta vez, o “mas” é usado para reforçar a ideia de que a maioria da população acha “justa” a prisão de Lula.
E na capa, a chamada sobre os vazamento envolvendo a Venezuela ocupa um espaço pequeno na coluna à esquerda.
O que une a edição da Veja e a capa da Folha, além de estarem trabalhando em parceria com The Intercept Brasil?
O desejo não abertamente declarado pela não libertação de Lula.
Exatamente isso: a imprensa que criou o herói Moro e deu poder total à Lava Jato, mesmo expondo agora todas as articulações feitas pelo ex-juiz e seus colegas, NÃO QUER LULA LIVRE.
A voz a confirmar esse “desejo” é, de novo, da “a maioria da população brasileira”, segundo a Folha.
Caberia perguntar qual maioria, de que brasileiros estão falando.
O essencial é que os campos à esquerda não se deixem enganar novamente pelo canto da sereia: LULA LIVRE não é a pauta da mídia corporativa, apesar da importância da divulgação por ela.
Não sabemos o que virá em termos de vazamentos, e creio serem bastante comprometedores.
Mas o certo é que vão querer tirar “o bode” da sala para que se mantenham as estruturas já vigentes.
Lembremos sempre a máxima de Lampedusa: “É preciso que tudo mude, para que tudo continue como está” (O Leopardo).
Moro será rifado pela imprensa, mas isso não vai significar defender a liberdade de Lula, defender que ele foi preso injustamente, defender que toda a imprensa fechou os olhos e se calou enquanto Moro agia livremente.
Glenn e o The Intercept Brasil estão obrigando parte da imprensa corporativa brasileira (resta o JN…) a fazer jornalismo. Mas por enquanto.
Está no DNA dessa imprensa não gostar de Lula, dos movimentos de esquerda, e isso é mais do que visível.
E, novamente, para dar o ar de imparcialidade e credibilidade de sempre, recorrem a uma opinião publicizada (porque construída e induzida) para ser a voz de autoridade a dizer: Moro errou, mas a prisão de Lula é correta.
Isso não deveria nem mesmo ser cogitado pela manchete da Folha, pois as articulações de Moro provam que o processo de Lula foi totalmente viciado, ou seja, ele foi condenado sem provas.
A questão central a se considerar, apesar do momento “fofura” da mídia comercial é: Moro se tornou herói pelas manchetes, capas e chamadas nos jornais, revistas e TVs; a Lava Jato ganhou aura de intocável pelo mesmo caminho.
Nunca houve qualquer questionamento a Moro, mesmo quando ele, após condenar o principal candidato, se tornou ministro do outro candidato que venceu as eleições.
Talvez Veja e Folha estejam surfando na onda do The Intercept Brasil para conquistarem mais credibilidade, fingindo não ter lado. A saber pelos próximos capítulos.
Portanto, podemos comprar a Veja e voltar a ler a Folha sem culpa, mas sem nos esquecermos também de que a lógica que move os grupos empresariais de mídia – e é disso que se trata – é a disputa pelo poder.
Fonte: Viomundo