Pensar Piauí

Coerência: confiança e dignidade

Coerência: confiança e dignidade

Em 12 de janeiro de 2012 publiquei nos jornais Meio Norte e Diário do Povo e em alguns portais de Teresina, o artigo abaixo. Agora ele está sendo reproduzido em razão do atual golpe na democracia brasileira em que grande parte da classe política pátria agiu com extrema incoerência com a Nação para elevar incoerentemente ao poder Michel Temer, sem voto, sem plataforma administrativa, sem esforço político, sem compromisso com o aprimoramento institucional-democrático, sem mudança ou transformação social e cultural, enfim, sem merecer, mas comprometido até a medula com o grupelho que, em audaciosa incoerência, outorgou-lhe o poder. Eis o artigo:
"A pessoa humana para viver com decência, precisa cultivar alguns princípios consubstanciados na moral, na ética, na religião, nos bons costumes e no ordenamento legal que formam o conjunto de valores da sociedade. Esses valores são fundamentais no dia a dia de qualquer indivíduo, porquanto servem como parâmetros dos seus atos por toda sua existência. A pessoa humana se depara na vida com as mais variadas situações como também se interrelaciona com pessoas ou grupo de pessoas que se apresentam com uma infinidade de ideias, pensamentos, fatos, ou seja, com uma gama de informações que define o padrão sociocultural de um povo. Por isso, é essencial que, nesse turbilhão de decisões, se aja em conexão e harmonia com os fatos e com as ideias. Isto se denomina coerência.
A coerência é essencial na vida das pessoas, para que assim elas não falseiem a verdade nem possam agir de forma abjeta, atrabiliária, inconsequente, desprovida de logicidade, mas lastreadas sempre em normas valorativas que dignificam os seus atos e elevem as suas atitudes. O discurso e a ação devem caminhar sempre juntos, um é o complemento do outro. Não é prudente desassociá-los, sob pena do discurso se tornar inócuo, vão, irrealizável, e a ação se tornar infrutífera por ser inapropriada. E assim o ser humano percorre a sua trajetória. Uns, supervalorizam demais esses fatos e, como se observa através das gerações, perenizam a sua existência como exemplos a serem seguidos. Outros, contrariamente, desprezam completamente essa condição, mas as suas passagens terrenas jamais serão lembradas.
Cada um possui o livre-arbítrio para traçar o que fará da sua vida. Ocorre que alguns querem chegar onde jamais alcançariam. Outros querem ser o que não poderiam. Assim, muitos seguem a sua caminhada não muito republicana. E por aí vão. Acontece que na esperança de galgar espaços que muitas vezes já estão preenchidos, alguns não levam em conta esses valores consolidados e, para atingir certo pedestal, desrespeitam frontalmente o atributo da coerência. Aí só pioram as coisas, porque assim agem como arrivistas, aplicam a "Lei de Gérson" (aquela do sujeito levar vantagem em tudo), querem se apoderar do que não é seu, tomam o lugar dos outros sem o devido mérito, enfim, contribuem apenas para desconstituir a valoratividade da sociedade escamoteando o processo civilizatório.
Na política não é diferente. Nesse campo, as pessoas envolvidas devem ser ainda mais coerentes. Porque possuem a função precípua de representar os segmentos da sociedade que lhes aprovam. Por isso a responsabilidade é maior. Seus atos, gestos, atitudes, ações, repercutem sobre todas as pessoas, e não somente sobre si mesmo. Todo passo dado pelos políticos deveria ser obrigatoriamente dentro dos regramentos sociais já sedimentados, para não comprometer a sociedade. Assim, mais do que ninguém, os políticos devem ser visceralmente coerentes: coerentes com o seu partido, com a sua ideologia, com os segmentos sociais que representam, com os seus eleitores, com a defesa do povo em geral, com a lisura no cumprimento dos mandatos e, acima de tudo, na gestão pública executiva.
No que se refere propriamente às articulações político-partidárias para compor as coligações visando os pleitos eleitorais, aí os políticos deveriam esbanjar coerência. Porque eleições pressupõem governança. E governar é o ponto culminante, é complexo, não é para qualquer um. Exemplos de fanfarrões, bonachoes, enganadores, impostores, inábeis, infiéis, inconfiáveis, incompetentes, farsantes, enfim, dos que chegaram oportunisticamente ao poder e foram pródigos em incoerências, são muitos. Nem é bom lembrar, para não causar náuseas. Os papéis jamais poderiam ser invertidos. Em ano de eleições, portanto, os políticos devem manter a coerência na formação das alianças partidárias, não permitindo a promiscuidade com os ultrapassados, testados e reprovados ou usurpadores do poder em nome apenas de ganhar o poder pelo poder, por serem prejudiciais ao povo. Quem age assim deixa um péssimo legado para todos".

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