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A fome no Brasil (o retorno)

A fome no Brasil (o retorno)

Há exatamente 14 anos, ou mais precisamente no dia 4 de maio de 2002, no auge do fracasso do governo FHC, publiquei artigo da minha autoria, com o título em epígrafe, no Jornal Meio Norte, cuja montagem da equipe econômica do eventual governo Michel Temer será uma repetição do modelo em questão, ei-lo:
"Em recente visita ao Brasil, com vistas a elaboração do novo Relatório de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas, o cientista social francês Jean Ziegler deixou as nossas autoridades econômicas enervadas, por constatar que a fome aumentou substancialmente no País e que milhares de pessoas disputam comida com os urubus nos lixões dos grandes centros urbanos brasileiros, em razão do recrudescimento da miséria causada pela ortodoxia do Plano Real.
Há quem diga que o atual estágio da exclusão social na América Latina está diretamente vinculado às políticas neoliberais ministradas ao mundo pelas grandes potências desde o Consenso de Washington, concebidas no Institute for International Economics, com sede na capital dos Estados Unidos, no início dos anos 1990, e que inspirou a adoção do Plano Real, em 1994.
Constata-se que daí surgiu uma obsessão pela abertura das economias e a divinização do mercado como referência única na regulação das atividades humanas.
A globalização apresenta pontos positivos, como necessidade de integração dos países no sentido de avançar nas técnicas das comunicações e na universalização dos benefícios gerados pela cibernética. O grande problema é a forma como a globalização tem sido praticada. As nações periféricas seguem a rotina do empobrecimento sempre da forma mais acentuada. Já os países industrializados acumulam riquezas. Mas, até mesmo entre eles, alarga-se o abismo entre a população pobre é rica.
A América Latina, um dos grandes sítios geoeconomicos estigmatizado pela pobreza, é território onde os efeitos dramáticos da globalização se mostravam visíveis. As políticas de estabilização econômica, ajustes estruturais, redução ao mínimo da presença do Estado nos domínios econômicos, criaram situações críticas no subcontinente.
Os produtos primários e insumos agrícolas não alcançam preços compensatórios nos mercados externos. As barreiras alfandegárias levantadas nas zonas mais fortes da economia mundial impedem a comercialização dos produtos latino-americanos. A pratica de subsídios nos países mais ricos torna inviável a concorrência em planos de igualdade.
No Brasil, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) aprovou recentemente, por unanimidade, o texto "Exigências evangélicas e éticas de superação da miséria e da fome", na sua 40a Assembleia Geral dos Bispos do Brasil, em que acusa o governo federal - ou seja, o Plano Real - de praticar políticas compensatórias, ou melhor, de manipulação eleitoreira, que apenas diminuem os índices negativos da sua imagem, mas que a injustiça social assume proporções de ofensa a Deus.
O relatório propõe um mutirão nacional pela superação da miséria e da fome e o engajamento da sociedade por soluções eficazes. A CNBB ataca a política que privilegia os lucros e pede o atraso ou a redução de débitos em benefício de investimentos no combate à fome, tendo em vista que a vida esta acima da dívida.
A CNBB ainda diz que "os governos pouco fizeram no campo dos direitos sociais, conformando-se antes a uma agenda monetarista e colocando a política financeira acima do desenvolvimento da cidadania". Defendeu a Reforma Agrária como forma de redistribuir a terra e desenvolver a agricultura. E criticou o atual modelo econômico, "as desigualdades sociais aumentam como fruto da globalização do mercado, que concentra poder e riqueza, enquanto faz diminuir os postos de trabalho".
Para os bispos brasileiros, o elevado nível de fome e miséria por que passa atualmente a nossa população é por falta de decisão política das autoridades que provoca "a distribuição iníqua da renda e riqueza". Eis, pois, o retrato mais visível da fome no Brasil"
Se porventura ocorrer o governo do Golpe, sinônimo do governo Temer, é exatamente para voltar ao Brasil esse estado de coisas, e pelos nomes que se desenham na equipe econômica não se tem dúvidas do retorno ao País do arrocho e da miséria para a grande maioria da população.

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